Não ao pé no chão.

Tuesday, March 06, 2007

O Sonho de um Ridículo

Eles não desejavam nada e eram serenos, não ansiavam pelo conhecimento da vida como nós ansiávamos por tomar consciência dela, porque a sua vida era plena. Mas a sua sabedoria era mais profunda e mais elevada que a da nossa ciência; uma vez que a nossa ciência busca explicar o que é a vida, ela mesma anseia por tomar consciência da vida para ensinar aos outros a viver; ao passo que eles, mesmo sem ciência, sabiam como viver, e isso eu entendi, mas não conseguia entender a sua sabedoria. Eles me apontavam as suas árvores, e eu não conseguia entender o grau de amor com que as olhavam: era como se falassem com seres semelhantes a eles. E, sabem, talvez eu não esteja enganado se disser que falavam com elas! Sim, eles descobriram a sua língua, e estou certo de que elas os entendiam,. Era assim que olhavam a sua natureza - os animais, que conviviam em paz com eles, não os atacavam e os amavam, tomados que estavam pelo seu amor. Apontavam-me as estrelas e falavam delas comigo algo que eu não conseguia entender, mas estou certo de que mantinham algum contato com as estrelas do céu, não só pelos pensamentos, mas por alguma via vital. Ah, esses homens não se esforçavam por fazer com que eu os entendesse, amavam-me assim mesmo, mas em contrapartida eu sabia que eles também jamais me entenderiam, e por isso quase não lhes falava da nossa terra. Eu só fazia beijar na sua presença aquela terra em que viviam, e sem palavra adorava-os também, e eles viam isso e se deixavam adorar, sem se envergonhar de que eu os adorasse, porque eles mesmos tinham muito amor. Não sofriam por mim quando eu, em pranto, às vezes lhes beijava os pés, sabendo alegremente no meu coração com que força de amorme responderiam. Às vezes me perguntava, espantado: como podiam eles, durante todo o tempo, não ferir alguém como eu e nunca despertar em alguém como eu sentimentos de ciúme e inveja? Muitas vezes me perguntava como é que eu, um cabotino e mentiroso, podia não lhes falar dos meus conhecimentos, dos quais, é claro, eles não faziam idéia, tampouco desejar impressioná-los com isso, nem que fosse só por amor a eles? Eram travessos e alegres como crianças. Erravam por seus lindos bosques e florestas, cantavam as suas lindas cantigas, alimentavam-se com a comida frugal que lhes davam as suas árvores, com o mel das suas florestas e com o leite dos seus animais, que o amavam. Para obter a sua roupa, trabalhavam muito pouco, sem esforço. (...)

Dostoievski - O Sonho de um Homem Ridículo (@ Duas Narrativas Fantásticas)


Estou aqui escutando a XFM via Internet.
Sotaque britânico, músicas que ainda não chegaram aqui (muitas que já chegaram tbm), e discussões, notícias sobre coisas que não fazem parte da minha vida... fazem parte do Reino Unido.
A Internet é mesmo uma coisa de louco...
Faz com que eu, que não posso estar lá, saiba de tudo o que está acontecendo lá no mesmo instante.

Eu sei que soa meio bobo, meio simplório, meio RIDÍCULO (assim como o tal homem ridículo)...
Mas eu ainda me espanto com a Internet.
Gosto muito dela!


Ouvindo: Blur - Coffee and TV

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