Satanás? É você, Satanás?

E lá estava eu na sala de espera da minha dentista, sem o livro que estou lendo atualmente (esqueci em casa) lutando contra o sono que queria me derrubar durante os milhares de minutos em que fiquei esperando pela doutora, que devia estar presa em algum congestionamento pela cidade.

Eis que ligam a televisão.
Me posiciono melhor na poltrona e, no afastando o borrão dos olhos focalizo a tela.
Passava um desses programas tipo Ana Maria Braga e eles estavam mostrando tudo sobre o concurso Miss São Paulo.
Aquilo chamou minha atenção. É fato: o bizarro sempre atrai a atenção das pessoas. E lá estava eu com o olhar fixo naquelas cenas grotescas.
Tem horas em que eu esqueço que esse tipo de gente ainda existe. Esse tipo de concurso, esses valores...
Fico submersa no meu mundinho "alienado".

Mulheres competindo para saber quem é a mais bonita.
HAHAHAHAHAHA!
Século XXI, e as mulheres ainda competindo em concurso de miss...
Juntando isso ao calor ocasionado pelo aquecimento global dá para imaginar como o inferno deve ser.

Ou até mesmo para supor que o inferno está de mudança aqui para a Terra.

Ouvindo: Grandaddy - I'm OK with my Decay

Conta-gotas, diques e outras besteiras mais

É pena que dá ao imaginar o tanto que existe e o pouco que é percebido.
É como se fosse conta-gotas... de uma imensa represa.
Cada dia goteja uma.
Cada dia uma ínfima parte daquela imensidão que passa despercebida.

Plim.
Plim.
Plim.
Plim.

Não molha.
Não percebe.
Não move.
É apenas um conta-gotas... não sabe fazer mais que isso.

Vai que um dia o conta-gotas entope...
O sol há de evaporar aquilo tudo.

Não vai haver beleza de força de aguaceiro.
Não vai haver beleza.

Ouvindo: Ramones - Pinhead

ramones é a salvação

Em dias como o de hoje e de ontem, quando o mundo parece um grande zepelin cheio de esterco prestes a despejar tudo em sua cabeça, quando a melhor coisa que pode te acontecer é ser atropelado por uma jamanta desgovernada, a solução é pegar um cd dos Ramones e ouvir MUITO ALTO.

Porque os problemas sem solução, são solucionados sempre das maneiras mais simples... com 3 acordes e muito volume!

*****

Ela passava pela rua. Indiferente a tudo.
Ela lidava com as pessoas. Sempre com aquela cara blasé.
Mas o que ninguém sabia é que aquele monte de titãnio revestia uma montanha de algodão doce prestes a derreter.

Ouvindo: Ramones - Chinese Rock

Ódio

Existem dias em que a minha maior vontade é ser um gigante para poder abraçar o planeta de uma vez só! Planeta este que parece estar povoado de seres-humanos sensíveis, amáveis e adoráveis.
Tenho vontade de ser uma máquina de espalhar beijos aos quatro cantos do mundo.
Vontade de escrever cartas de amor para cada um que teve a sorte de nascer neste mesmo planeta maravilhoso onde também vim parar.


Hoje definitivamente não é um desses dias.
E eu odeio cada um dos malditos seres-humanos que dividem esse lixo de planeta comigo.

Morram, por favor?

*****

É sempre assim, uma inconstância constante.
Queria atingir um estado de inércia emocional.
E que eu fosse vivendo sempre no mesmo estado... nem feliz nem triste.
Neutra.
Queria que nada mais me abalasse. Nem mesmo as coisas boas fossem capazes de me mover.
Queria apenas ver as coisas acontecendo na minha própria vida com a indiferença de quem olha uma janela que dá para o nada.

Queria parar de sentir essa coisa insuportável que está me consumindo neste momento, essa vontade de explodir, de virar estilhaços, essa vontade de gritar até ensurdecer todo mundo tamanha a raiva que eu estou sentindo, tamanha a insatisfação que reina aqui dentro, tamanho o sentimento de impotência.
Tamanho o mal que fatores externos são capazes de me causar.
Tamanha a vontade que eu sinto de pegar um trator e ir passando por cima de tudo quanto é gente, problema, situação.

Um dia essa porcaria toda vai me enlouquecer a ponto de eu babar e ter que usar fraldas geriátricas aos 20 e poucos anos.

Ouvindo: Ramones - Commando

E quando tento te dizer alguma coisa percebo como eu sou péssima lidando com os seres-humanos de quem eu mais gosto.

E quando me deito percebo como é insuportavelmente grande minha cama sem você por ali.

Transtorno bipolar, dislexia, falta de memória, ansiedade.
Facinho se relacionar com alguém assim, não?

Ouvindo: Johnny Thunders - Pipeline

Divisor de águas

Se eu sobreviver ao dia de hoje, juro que acredito em Deus, leio o Corão, compro uma estátua do Buda e faço um altarzinho pra ele...

Se eu chegar ao fim do dia de hoje ilesa moral e principalmente fisicamente, vai ser mesmo um milagre.

Tem dias que são marcos na História mundial.
Hoje vai ser um marco na minha história pessoal.


Ouvindo: Grizzly Bear - Don't Ask

Mamãe, quero ser normal!

(post com destinatário definido)


Por que eu me importo se te machuquei?
Por que eu não posso ser uma pessoa normal, como todas aquelas cretinas que pisam nos corações e depois ainda ficam bravas pelo fato da porcaria do coração ter entrado no meio do caminho e ter sujado seus sapatos?
Por que eu não posso olhar pra você e simplesmente pensar: "rá rá rá"?
Por que eu tenho essa mania imbecil de inconscientemente querer ser a benfeitora do planeta que vai salvar todos os corações de padecerem no inferno do desprezo e da indiferença?
Por que eu quero que você não me odeie?


As pessoas normais seguem por aí, pisando nos outros, nas suas emoções, sentimentos, fazendo piada de sua sinceridade, estraçalhando o peito alheio em praça pública, dando socos na boca do estômago do amor nutrido durante tanto tempo, batem o telefone na cara da tímida afeição...


Pois então...
Eu deveria me esforçar para ser a top da sua lista de "seres que devo odiar para todo o sempre".
Eu deveria rir da sua cara todos os dias por você ser essa criança mimada que nada sabe da vida, nada vê a não ser o evidente, come tudo pré-mastigadinho da boquinha da mamãe.
Eu deveria fazer você comer o pão que o diabo amassou.


Mas eu não consigo ser uma pessoa sádica, consigo?
Eu simplesmente não consigo ser uma pessoa normal, consigo?


Na próxima encarnação quero nascer num planeta onde só exista eu e uma flor, igual ao Pequeno Príncipe.
E quero ter coragem pra pisar em cima da droga da flor!


Ouvindo: Grandaddy - El Caminos in the West

Você nem desconfia...

A vida passa.
Você com suas coisas, eu com as minhas.
Uma trava minha, uma encanação sua...
A vida vai passando...
E você nem desconfiando...
Nem desconfiando do todo que se esconde por detrás deste nada.

Você não acreditaria se eu contasse a quantidade de horas que voaram embaladas por pensamentos sobre você.
Duvidaria se eu contasse que você é o responsável por uma das minhas características mais marcantes.
E talvez risse se ouvisse todo o resto... o resto dos pensamentos e sentimentos e vontades e viagens e coisa e tal.

É por isso que escondo muito bem DE VOCÊ todas as coisas boas que são PARA VOCÊ.
Elas são tão distantes do que vivemos até agora que você não acreditaria.

E seguiremos assim...
Eu sentindo e você nem desconfiando.

O que era a família?

O pai, a mãe e uma criança.
A familia era um retrato de todos juntos... e que nunca foi tirado.
Uma reunião onde todos riam, e dessas risadas, nunca se ouviu o som.
Um sorriso com dentes escondidos atrás de lábios murchos pela mecanicidade.
Uma união entre o absurdo e o impossível.
Um berço embalado pelo vento.
Uma mão dada à mentira.
O maior sapo já engolido.
O equívoco disfarçado em pele de amor.
Uma piada da qual ninguém riu, porque nunca ninguém entendeu.
Por que foi que aquilo aconteceu mesmo?
Por que deram o nome de "família" mesmo?

*****

(Me desculpem os leitores mas terei um momento "recado pra iaiá". Sei que o destinatário não vai ler isso, mas fica aí para a posteridade. Só uma catarse...)

Você me pede perdão?
Longe de mim ter o poder de PERDOAR alguém, afinal eu sequer tenho os poderes de Greyskull, ou de Cristo ou sei lá de quem que fica aí tomando para si o dom de tirar a culpa dos outros.
Sendo assim, não espere que eu te perdoe por nada.
Daqui é que você não vai ter perdão nenhum!
Daqui você não vai ter NADA.


Ouvindo: Kasabian - Empire

O Sonho de um Ridículo

Eles não desejavam nada e eram serenos, não ansiavam pelo conhecimento da vida como nós ansiávamos por tomar consciência dela, porque a sua vida era plena. Mas a sua sabedoria era mais profunda e mais elevada que a da nossa ciência; uma vez que a nossa ciência busca explicar o que é a vida, ela mesma anseia por tomar consciência da vida para ensinar aos outros a viver; ao passo que eles, mesmo sem ciência, sabiam como viver, e isso eu entendi, mas não conseguia entender a sua sabedoria. Eles me apontavam as suas árvores, e eu não conseguia entender o grau de amor com que as olhavam: era como se falassem com seres semelhantes a eles. E, sabem, talvez eu não esteja enganado se disser que falavam com elas! Sim, eles descobriram a sua língua, e estou certo de que elas os entendiam,. Era assim que olhavam a sua natureza - os animais, que conviviam em paz com eles, não os atacavam e os amavam, tomados que estavam pelo seu amor. Apontavam-me as estrelas e falavam delas comigo algo que eu não conseguia entender, mas estou certo de que mantinham algum contato com as estrelas do céu, não só pelos pensamentos, mas por alguma via vital. Ah, esses homens não se esforçavam por fazer com que eu os entendesse, amavam-me assim mesmo, mas em contrapartida eu sabia que eles também jamais me entenderiam, e por isso quase não lhes falava da nossa terra. Eu só fazia beijar na sua presença aquela terra em que viviam, e sem palavra adorava-os também, e eles viam isso e se deixavam adorar, sem se envergonhar de que eu os adorasse, porque eles mesmos tinham muito amor. Não sofriam por mim quando eu, em pranto, às vezes lhes beijava os pés, sabendo alegremente no meu coração com que força de amorme responderiam. Às vezes me perguntava, espantado: como podiam eles, durante todo o tempo, não ferir alguém como eu e nunca despertar em alguém como eu sentimentos de ciúme e inveja? Muitas vezes me perguntava como é que eu, um cabotino e mentiroso, podia não lhes falar dos meus conhecimentos, dos quais, é claro, eles não faziam idéia, tampouco desejar impressioná-los com isso, nem que fosse só por amor a eles? Eram travessos e alegres como crianças. Erravam por seus lindos bosques e florestas, cantavam as suas lindas cantigas, alimentavam-se com a comida frugal que lhes davam as suas árvores, com o mel das suas florestas e com o leite dos seus animais, que o amavam. Para obter a sua roupa, trabalhavam muito pouco, sem esforço. (...)

Dostoievski - O Sonho de um Homem Ridículo (@ Duas Narrativas Fantásticas)


Estou aqui escutando a XFM via Internet.
Sotaque britânico, músicas que ainda não chegaram aqui (muitas que já chegaram tbm), e discussões, notícias sobre coisas que não fazem parte da minha vida... fazem parte do Reino Unido.
A Internet é mesmo uma coisa de louco...
Faz com que eu, que não posso estar lá, saiba de tudo o que está acontecendo lá no mesmo instante.

Eu sei que soa meio bobo, meio simplório, meio RIDÍCULO (assim como o tal homem ridículo)...
Mas eu ainda me espanto com a Internet.
Gosto muito dela!


Ouvindo: Blur - Coffee and TV

Doendo e Aprendendo

O mais interessante é que logo após ter escrito o último post, fui ao cinema.
Fui assistir "Pequena Miss Sunshine" porque achava que seria um filme bom para rir e esquecer um pouco das perseguiçoes do destino.

Curiosamente um dos personagens do filme fazia papel de um profundo conhecedor de Proust e no meio do filme, assim como quem não quer nada, ele diz que Proust sempre agradeceu aos anos de sofrimento na vida dele pois foram os anos em que ele mais aprendeu.

:)

Interessante, né?

*****

Este ano, sinto que será de muitos e muitos aprendizados.
Já estou preparando meu escudinho anti-oxidante pra ficar embaixo do sol, da chuva, do vento, da maresia e de tudo o mais que o tal do destino resolver mandar para mim.

*****

Um poema do Leminski, só pra ilustrar...

Faça os gestos certos,
o destino vai ser teu aliado,
ouço uma voz dizendo
do fundo mais fundo do passado.
Hoje, não faço nada direito,
que é preciso muito mais peito
pra fazer tudo de qualquer jeito.

Ai do acaso,
se não ficar do meu lado.

(Paulo Leminski)

Viva as Crianças!

Aaaah, a infância!
Como é boa a infância!

A infância molda o adulto de amanhã!
A infância é a época para se:

Ter bronquite.
Não poder tomar gelado.
Não ter irmãos pra brincar.
Ter um pai louco.
Ter uma mãe super-protetora.
Ser boazinha demais.
Levar tapa na perua escolar por ser boazinha demais.
Ficar com medo de revidar por ser boazinha demais.
Ter suas habilidades artísticas podadas por uma régua.
Ter sua personalidade podada pelo convívio quase diário com aquela criança mais velha, filha da melhor amiga da sua mãe, que te recrimina assim que você abre a boca pra falar A.
Não conseguir prestar atenção na aula porque o menininho que gosta de você (e de quem você não gosta) fica mandando bilhetinhos a todo instante e você, por ser boazinha demais, se sente mal por não corresponder ao sentimento do coitadinho.
Ser mesmo boazinha demaaaaaais.
Passar tempo demais sozinha.
Pensar demais pra uma criança...


Como é bom ter sido uma criança!
Eu não seria metade do que sou hoje em dia se não fosse minha infância bizarra!

(E pela primeira vez na minha vida, não estou sendo sarcástica)


Ouvindo: Gotan Project - Epoca